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20 julho 2010

Animais possuem inteligência moral e emocional

Especialistas defendem que os cães sabem distinguir o certo do errado e esperam ser tratados com justiça e respeito.


Cães usam a linguagem corporal e expressiva para fazer com que os donos entendam suas vontades, como comer, brincar, dormir. Mas quais são os códigos de conduta que eles seguem? Existe uma moral canina?

Para Marc Bekoff, professor de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, e especialista em comportamento e emotividade no mundo animal, os animais possuem uma inteligência emocional e moral. “Há pouco tempo realizei um estudo que mostrou que os animais possuem regras de conduta, sabem diferenciar o que é certo e o que é errado e esperam ser tratados com justiça”, explica Bekoff.

De acordo com a inglesa Sophie Collins, autora do livro “Cachorros Falam: Entenda a Linguagem Corporal dos Cães” (Editora Ediouro), os cachorros são tão sociáveis quanto nós, apenas possuem uma forma distinta de comunicação. “Nós os entendemos pela observação e pelo conhecimento, eles nos entendem a partir dos resultados. Eles podem não entender o que dizem seus donos, mas podem captar rapidamente para que servem palavras como “hora de comer”, “não!”, e assim por diante”, explica a especialista.

No livro “Wild Justice: The Moral Lives of Animals” (na tradução literal: “Justiça Selvagem: A Vida Moral dos Animais”), ainda inédito no Brasil, Bekoff define a moral como um conjunto de comportamentos cultivados para regular as interações sociais. No mundo animal, ela também existe, como, por exemplo, durante as brincadeiras: “Estudamos como a moral funciona em animais como lobos, coiotes e cães domésticos, e quando estes diferentes grupos brincam entre si, cada um está constantemente tentando seguir as regras, como ser honesto e não morder muito forte”, diz.

No entanto, o especialista afirma que a moral dos animais é bem diferente da dos seres humanos, mas isso não quer dizer que ela não exista – ainda que eles não tenham a capacidade de crítica e reflexão sobre valores. “Cães e gatos, por exemplo, sabem o que é adequado e o que não é de acordo com o que é permitido em diferentes situações, seja com pessoas ou com outros animais”, revela o especialista.



Regras da casa

De acordo com a psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs, especialista em comportamento animal, os bichos se adaptam às regras do ambiente, mas há várias características ao redor que também influenciam seu comportamento: “Se ele convive com respeito, ele se tornará respeitador, se ele convive com maus-tratos, ele se tornará um animal amedrontado. Tudo depende das experiências que ele tiver”.

Segundo ela, quando um cão, por exemplo, é adotado, a princípio ele seguirá as regras que aprendeu junto com a mãe e os irmãos. “Dentro da linguagem canina, eles sabem quando o outro quer brincar, quando o outro está se machucando, como respeitar o próximo. Quando uma pessoa o levar para casa, ele irá passar o que aprendeu para depois aprender o que pode e o que não pode na nova família”, explica.



Código moral ou senso comum?

Enquanto Bekoff afirma que a moral existe em muitos grupos de animais, Sophie Collins revela que, pelo menos em relação aos cachorros, o que existe é somente uma vontade de cooperar com os outros para obter um resultado. “Esta é uma das características que os animais sociais possuem quando dependem de outros para a sobrevivência, e pela mesma razão se torna possível treinar os cachorros para fazerem o que o dono quiser”, explica a escritora. Segundo ela, o que levaria um animal a defender o que ele percebe ser o interesse da família, por exemplo, é o instinto que ele possui.

O professor do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da USP, César Ades, também especialista em comportamento animal, afirma que os cães possuem apenas um senso comum do que é proibido e permitido. “Quando ele faz alguma coisa errada, por exemplo, já se esconde antes de você descobrir o motivo”, lembra. Porém, ele ressalta que isto não quer dizer que devemos culpá-lo por algo inadequado.

“Nós precisamos respeitá-lo mesmo quando faz algo que não nos agradou, afinal, ele faz ou deixa de fazer somente o que lhe foi ensinado”, diz Ades. Por esta razão, o especialista indica que não devemos culpar o cão, mas treiná-lo para que aja da maneira correta.

Em recente trabalho realizado pela equipe de Ades na Universidade de São Paulo, foi identificado que os cães são capazes de aprender muito rapidamente e, a partir do momento em que chegam a um novo lar, interagem a tal ponto de, depois, serem capazes de responder ao contato visual do dono e interpretar gestos, por exemplo. “Dono e cão vão se explorando pouco a pouco; um aprende os limites do ambiente de um lado, o outro vai aprendendo a entender o que ele gosta ou não gosta”, explica.

Segundo Collins, algumas pessoas possuem uma facilidade maior para compreender os animais – além de também possuírem uma afinidade mais forte com eles. Estas pessoas normalmente são aquelas capazes de observá-los, comportando-se naturalmente e interagindo também com outras espécies de animais.



Fonte e foto: O Rio Branco 

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